Sou coordenador geral de inovações tecnológicas do
departamento de sistemas de informação da secretaria de logística e
sistemas de informação do ministério do planejamento, orçamento e gestão
do governo do Brasil. Estou neste cargo desde setembro de 2011. Hoje
comunico, publicamente, meu pedido de exoneração.
Todos sabem
qual é meu salário graças à Lei de Acesso à Informação. Preciso deste
salário e, de fato, tenho orgulho em merecê-lo. Mas a partir do momento
em que tenho que ferir meus princípios para manter minha remuneração,
meus princípios sempre ganharão o jogo, independente do que virá depois.
Trabalho, há bastante tempo, com o conhecimento livre e modelos
de negócios baseados nisso. Em Porto Alegre, no final dos anos 1990,
tive o prazer de ver um projeto de governo crescer levando em conta a
crença em que a liberdade ampla para todas as formas de conhecimento era
um fator gerador de inovação tecnológica e de criação de emprego e
renda. Apoiei esse projeto mas nunca integrei nenhum quadro do governo
até setembro de 2011, quando assumi o cargo acima mencionado, e passei a
ser o responsável pelo Portal do Software Público Brasileiro, pela
Infraestrutura Nacional de Dados Abertos, além de outras atividades.
Não
foi fácil, vindo da iniciativa privada e há mais de doze anos como
empresário, aprender a hierarquia e a burocracia que são parte de um
emprego público. Aliás, esse é um aprendizado constante. Mas segui
trabalhando com minha paixão: liberdade de conhecimento como geração de
inovação e riqueza.
No decorrer de meu trabalho deparei-me com a
greve do funcionalismo federal, à qual aderiram muitos dos que estavam
sob minha coordenação. Enfrentar uma greve como executivo público foi
algo totalmente inédito para mim. Acompanhei greves desde o tempo de meu
avô, no surgimento do PT. Toda a articulação para as greves, para a
criação de uma força que mudasse o estado, conscientizou uma população
que colocou o PT no poder. Mas o PT patrão parece não ter aprendido com
sua própria história. O PT patrão apenas aprimora as táticas de pressão
psicológica e negociação questionável daqueles com os quais negociou na
época em que a greve era sua.
O PT patrão virou governo,
melhorou o país e acha que não depende mais da máquina que sustenta o
estado. O PT patrão, que fez muito pela nação, tem a certeza de que vai
muito bem sozinho. E está indo mesmo!
Eu espero que nosso país
siga melhorando, mas estou nele para mudá-lo e não para cumprir ordens
com as quais não concordo. Como coordenador, jamais cortarei o ponto
daqueles que trabalham comigo e estão em greve. Independente da greve,
eles cumpriram seus compromissos civis sempre que necessário. E, na
greve, cultivaram ainda mais sua união na crença da construção de um
Brasil melhor”.
(César Augusto Brod, responsável pela Coordenação Geral de
Inovação Tecnológica da Secretaria de Logística e Tecnologia da
Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão).
DISPONÍVEL EM: http://assibge.org/en/index.php/noticias/item/507-o-pt-como-patrão